quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

De Lenin a Churchill - Copenhagen, Dinamarca (1º dia)

Sem câmera, vai o celular mesmo...

   Dia de embarcar pra Europa. Nem acreditava. Fui direto do trabalho. De roupa social e mochilão nas costas. Momentos de despedida. Ultimas fotos. Hora de embarcar.
   Dentro do avião, de um lado um homem e do outro um grupo de senhoras. Vamos viajar.
   Depois de algum tempo, começei a conversar com o homem. Ele era um francês, prestando serviço no Brasil. Ele me disse que não falava português e que nem precisava, pois lá todos falavam inglês. Assim, falamos em inglês a maior parte do tempo e um pouco em francês. Precisava treinar. Enquanto isso, ele ia tomando umas garrafinhas de whisky.
    Algumas horas depois, entre dormidas e conversas com o francês, e algumas turbulências mais tarde, o whisky começou a fazer efeito. Ele começou a ensaiar uma mistura estranha de espanhol com francês e achando que falava português. Hora de parar um pouco com o papo. Não dava pra se entender. Falei um pouco com as senhoras. Muito divertidas. Descobri que o grupo era grande de terceira idade e que metade dos acentos eram deles. O legal foi que na hora que falei em português, elas estranharam. Acharam que eu era estrangeiro. E realmente seria. Por pouco mais de um mês...
   Meu voo tinha uma conexão em Paris e a entrada na França foi realmente tranquila. Precisava receber o carimbo de entrada pra ir pegar o outro voo pra Copenhague. A mulher só olhou pra mim, depois de carimbar o meu passaporte, ainda porque perguntei onde era o banheiro. Que nem tive tempo de usar. Tinha que correr.
   Embarquei. Resolvi bater umas fotos. Seriam as primeiras desde o Rio. Me dei conta que a câmera não estava comigo. Falei com a comissária. E ela falou com alguém. Não era mais possível um procura. Bom, vou voltar pra Paris em um mês, pensei. Procuro com calma. Fazer o que? Paciência...
   Chegada em Copenhague. Hora de pegar as malas na esteira. Esperar uma mala que não vem e vendo todos irem embora é uma sensação muito chata. Só sobramos eu e uma mala que não era a minha. E agora? Não conhecia ninguém, com um avião pra Vilnius em 7 horas e sem a minha boa e velha mochila. Os documentos e dinheiro estavam comigo em uma espécie de pochete, mas todo o resto estava na mala. Já estava me preparando psicologicamente. Me mandaram ir num guichê escrito Novia lá dentro mesmo, próximo a esteira.
    Lá, depois de uma fila só com árabes, que pareciam ser todos de um mesmo voo (pelo menos tinha mais gente só com a roupa do corpo), me disseram que tinham localizado a minha mochila e que ela chegaria no próximo avião vindo de Paris, mas que nada poderia ser feito sobre a minha câmera. Apesar dos problemas, daria tempo de ir pra Vilnius, além de poder ir e voltar na estação de trem e reservar as minhas passagens (apesar de ter o passe de trem, alguns tíquetes devem ser reservados). Tinha de fazer isso lá,mesmo, já que estaria fora de um lugar onde poderia reservar por mais de duas semanas.
   Sai e fui direto no guichê da Air France. Me repetiram a mesma coisa e que quanto a câmera, eu deveria procurar o setor de achados e perdidos em Paris. Paciência...
   Procurei a estação de trem dentro do aeroporto. Estranho. Não tinha bilheteria, só uma escada. Desci, passei pela funcionária, fui no fluxo pra dentro do vagão. Procurei um acento vago e confortável. Me sentei na frente de uma mulher. Era bonita, como a maioria lá. Ela me contou que tudo em Copenhague era muito caro e que todos lá iam a Malmö, na Suécia, pra fazer compras, principalmente de eletrônicos. Cada povo com o seu Paraguai... haha
Chegando a estação central de Copenhague
   Na estação central (grande, limpa e linda) fui direto procurar aonde fazer as reservas. Incrível. Nem o balcão de informações sabia informar. Mostrava o livrinho da Eurail. Talvez eu não estivesse sendo claro. Talvez conhecessem pelo logotipo. Com muito custo ( e várias perguntas depois ) encontrei o lugar. Várias filas. Cada uma com um motivo. Na hora H, me disseram que só poderiam reservar passagens dentro da Dinamarca. Seria mais fácil terem me informado que eu estava na fila errada e que poderia ter feito tudo na fila 6. Só descobri isso na minha segunda visita a cidade. Aos poucos, a gente aprende.

Os taxis Mercedes. Ao fundo, informações turísticas
   Resolvi dar uma volta. Não iria chegar até o centro da cidade e só ver a estação de trem. Sai. Vento frio. Virei a cabeça e surpresa: muitas Mercedes. Nunca tinha visto tantas. Várias fileiras. O frio podia estar fazendo miragens. Olhei de novo. Eram todos taxis. Se, na estação, meu cérebro já tinha se convencido que não estava mais no Brasil,  naquele momento, também me dei conta de que realmente estava na Europa.
   Os prédios eram, na maioria, relativamente baixos e com o mesmo estilo arquitetônico, inclusive a própria estação de trem. Os ônibus me lembraram um pouco os de Curitiba. Resolvi andar. Fui parar em um prédio que por fora parecia os demais, porém, por dentro, era um escritório com uma decoração super arrojada. Era um local de informações turísticas. Tinha de tudo e gratuito, mapas e informações, e com aquecimento. Bem agradável. Meu cérebro começou a funcionar, mas já era hora de voltar.
   Voltei a estação. Peguei o trem. No vagão, me sentei em frente a uma portinha. De lá, saiu uma senhora que me pediu o bilhete. Perguntei: "precisa?" Ela me perguntou da onde eu era. Respondi: "Brasil" (queimando o filme da pátria amada :-) ). Ela me disse que precisava, senão teria que pagar uma multa (de 300 euros). Disse que não tinha visto aonde comprar os bilhetes. Ela respondeu: "upstairs". Me disse pra saltar na estação seguinte e comprar o bilhete e pegar o próximo trem. Foi bem camarada. Saindo rápido, deixei o dinheiro que contava cair no chão. Me devolveram. Se fosse no Brasil, quem devolvesse viraria manchete de jornal.
   Sai do trem, subi as escadas, sai da estação. Nada de bilheteria. Perguntei a uma mulher que passava. Ela me apontou uma máquina que mais parecia um caixa eletrônico amarelo. Nunca teria imaginado. Ela me ajudou a comprar a passagem. Voltei ao trem.
Essas promoções de free shop, sempre iguais...
   No aeroporto, depois de um sanduíche (o resto era caro mesmo), me disseram que eu deveria falar em um telefone atrás de um elevador com o pessoal da Novia, já que o guichê era ao lado das esteiras de bagagens. Lugar "inacessível". Do outro lado da linha, o rapaz me respondeu que era pra eu esperar lá mesmo, que a minha bagagem já chegaria. Esperei... esperei... Liguei de novo. Mesma resposta.
   Um tempo depois, chegou uma mulher. Ela contou que estava na casa de parentes numa cidade próxima e que estava esperando a bagagem perdida por uma semana. Nada motivador pra quem tem passagem comprada pra 3 horas depois. Ela também usou o tal telefone. Falou na língua deles, dinamarquês (dansk). Mesma reposta. Mais um tempo esperando e surge um pessoal no saguão com um carrinho cheio de malas. No início pensamos que fossem as nossas. Engano. Contamos que estavamos esperando há um tempão e que precisávamos ir no guichê da Novia. Eles disseram pra segui-los. Passamos por uma porta com acesso por senha. Chegamos no guichê. Lá, o cara reclamou, pois não era pra estarmos ali. A mulher falou com ele a situação em dinamarquês. Tive a impressão que se não fosse por ela, não teria dado certo.  Nada como alguém do lugar. Alguns minutos depois, estava novamente de mochila nas costas. Que sensação ótima !!!
   Pronto pra embarcar pra Vilnius.

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