quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

De Lenin a Churchill - São Petersburgo, Rússia (11º dia)

São Petersburgo do alto da Catedral de Santo Isaac

   Sai pra um último passeio por São Petersburgo. De novo com o argentino do dia anterior. Que frio !!! O vento parecia q ia cortar a alma. Na verdade, a sensação era literalmente como se alguém estivesse me cortando...

Campo de Marte (Марсово поле): chama eterna
   Primeira parada, o fogo eterno no Campo de Marte em homenagem aos mortos na Revolução Bolchevik. Boas fotos e o mais importante, tentar se aquecer. Infelizmente, o fogo não foi suficiente. Continuar a caminhada. A cada igreja ou loja, uma alegria. Aquecimento interno.
   Meu cérebro parecia que não pensava mais. Tinha a impressão que tudo era um sonho gelado, mas, ao estar aquecido, parecia esquecer de todo o desespero passado. Porém, a realidade é dura e ainda espera do outro lado da porta. Caminhar de novo.
   Fomos as margens do rio. Vimos mais garotas tirando fotos delas mesmas em uma das pontes. Essas tinham mesmo jeito de serem modelo. O argentino pediu uma foto dele com a ponte de fundo, como quem não quer nada, pra aparecer uma delas... :-)
   Voltei a frente do Hermitage. Dessa vez, passei embaixo dos arcos. Parei em lojinhas, vi bonecos de guerreiros medievais e cavalos devidamente paramentados. Tudo ultra caro... Lugares turísticos. O mesmo em qualquer cidade...
   Fomos em direção a Igreja de Nosso Salvador sobre o Sangue Derramado (Храм Спаса на Крови). Do lado de fora, uma feirinha. Um lugar barato para se comprar os souvenirs. Aproveitei pra comprar algumas coisas... haha
Igreja de Nosso Salvador sobre o Sangue Derramado
Detalhe pra feirinha no canto
   Entramos na igreja. É a única construção visível que segue o estilo tradicionalmente russo. Até se parece a igreja de São Basílio, na Praça Vermelha. Foi construída no lugar onde o czar Alexandre II foi assassinado em um atentado a bomba.
Aboboda da igreja
Mal comparando, é a versão para um rei de uma daquelas cruzinhas na beira da estrada indicando um acidente fatal... É absolutamente linda, mas muito turística. Podem ser vistos bancos para se sentar (não muito comum em igrejas ortodoxas) e turistas entrando o tempo todo e batendo fotografias.
   A fome bateu. Procuramos fazer uma rápida parada pro almoço. Andamos em zigue-zague a procura de algum lugar.
Pela fachada, deve ser legal :-)
Era um domingo. As ruas estavam vazias. Foi difícil arrumar um lugar aberto naquele horário, a tarde. Andamos um pouco até encontrarmos um. Comida simples, mas honesta.  Se o meu senso geográfico está em dia, numa ruazinha paralela a avenida Nevsky, acho que umou dois quarteirões abaixo, na direção atrás do Gostiny Dvor.


   Fomos na Catedral de Santo Isaac.
Catedral de São Isaac (Исаакиевский собор)
Esta igreja levou 40 anos pra ser construída e dizem que, na Segunda Guerra Mundial, pintaram o domo de cinza pra não chamar a atenção dos inimigos, época em que foi transformada no museu do ateísmo pelo governo soviético. Até que eles tinham um senso de humor. Muito bonita também. As portas dessas igrejas são, em geral, extremamente pesadas.
   Subimos na torre da catedral. Tivemos que pagar. Garanto que com aquele vento gelado, não teria pensado em ir lá em cima se estivesse sozinho, mas fui na onda do argentino. Consegui uma ótima paisagem e ótimas fotos. O difícil foi conseguir segurar a câmera. Parecia que meus dedos iam cair.
Vista do alto da Catedral
   A vista da cidade era privilegiada, mas o vento estava muito mais forte. No entanto, tinha uma posição em que o vento ficava menos pior e, pra minha sorte, era do lado mais bonito e famoso. Mas já que estava lá em cima, eu tinha que ver o que poderia ser visto do outro lado da torre. Não sei se meu cérebro parou de vez, mas não vi nada de legal. Voltei pra onde estava, me sentindo como se tivesse saido de um freezer ligado na menor temperatura possível...

   Demos uma parada na catedral de Nossa Senhora de Kazan.
Catedral Kazan (Казанский собор): estilo greco-romano
Absolutamente linda. Um coral cantava uma especie de ladainha que ecoava, enquanto que os turistas tiravam fotos e observavam tudo. O argentino resolveu andar. Eu resolvi ficar um pouco parado no clima agradável para descansar do frio antes de observar melhor a igreja.
Interior da Catedral N.S. de Kazan
   Chegando no albergue, jantar: o miojo melhorado russo, tomei banho, troquei de roupa e sai. Antes, troquei contatos e últimas fotos (como sempre).
   Fui de metrô. Saltei na estação certa, mas peguei a saída errada e fui parar em outra estação que era interligada. Os metrôs de Moscou e São Petersburgo são incrivelmente profundos e algumas estações realmente grandes. Tive que andar duas quadras.
   Chegando na estação de trem. Tudo 100% em russo de novo. Entre gestos, enrolar no russo e tentar adivinhar a resposta, cheguei a plataforma. O trem já estava lá.
Últimas fotos antes de sair do albergue
   Tentei fazer gestos pra adivinhar onde estava a cama (já nem imaginava mais que alguém poderia falar inglês) e, aleluia, me apareceu uma inglesa, que tinha ficado sem voo por causa da história do vulcão na Irlanda junto com seus amigos. Ela me ajudou a achar e como abrir a minha cama. Bem que esses vagões poderiam ser padronizados... Cada um é de um jeito...
   Dois casais estavam nas camas a minha frente. Super divertidos, riam o tempo todo. Pena que não entendia bulufas do que diziam. Falavam em russo ou em alemão? Era rápido demais pra entender... Nessa, o homem, muito cavalheiro (haha), ficou na cama de cima, mas depois não conseguia subir nela e quase caia. Tentava se agarravar. Todos riamos. Nada como uma boa vídeo-cassetada pra ajudar na viagem. Me pediram pra tirar uma foto. Pedi pra retribuirem o favor, claro. :-)
   Bom, hora de descansar. O frio acabou comigo hoje...
Na cama do trem, ainda com cara de frio
   4 da madrugada. Alfândega russa. A guarda olha várias vezes pra minha cara e pra foto. Não falou nada. Será que estou tão diferente da foto? Carimbo de saída dado.
   Trem anda mais um pouco. Alfândega letã. A guarda também olha varias vezes. Devo realmente ter mudado de cara nessa viagem. Ou era a mesma, mas amassada de quem acaba de acordar. Esta resolve  perguntar pra que cidade vou na Letônia. Respondo: Riga. Pergunta: "e depois?". Respondo. Fala na língua deles com um colega que passava. Ele sorri e faz um sinal com a mão como quem diz: "deixa pra lá e carimba logo isso..." e continua seu caminho. Ela continua com mais perguntas: "pra onde depois?", "e depois?", "por quantos dias?".
Vagão coletivo: olha o trem...
   Realmente não esperava por isto aqui. Esperava na Rússia (e nem rolou) e na Inglaterra (rolou até demais. Lá cheguei a pensar que seria extraditado - para um post futuro :-) ).
   Até então, tinha entrado e saído desses países como quem muda de bairro. Essa guarda, até bonita, não deve estar acostumada a ver um brasileiro entrando por essa fronteira.
   Meio com cara de contrariada, ela pensou mais um pouco, carimbou o passaporte e saiu.
   Bem vindo a Letônia. Bem vindo de volta ao espaço Schengen.


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